quinta-feira, 24 de junho de 2010

- Ei, tu aí, senhor(a) de si!

Veja a unha:
ela sobe e desde,
sobe e desce,
e no movimentar-se do dedo

ela sinaliza chamando para vires ao mundo meu,
ou ir-te ao mundo teu, mas - idiota,
- puta que pariu! - sai da porra de cima deste muro,
antes que minha unha insana em ti se crave

laboriosa e criadora de purulenta ferida
a causar pútrida chaga em tua leitosa consciência hipócrita e presunçosa;
antes que o dia se acabe
com minha unha traçando no céu linhas vertiginosas do teu destino alado,

deposto e encarcerado,
na caixinha de lembranças na qual pensas escondê-lo,
para que ninguém o leve,
como se alguém pudesse querer algo nessas condições tão desgraçadas;

ó bardo beduíno de alma exilada no monumental, ainda não sepulcral,
deserto onde florescem, frutificam e desabrocham,
em mirabolante quantidade e qualidade,
todas as tuas espécies proprietárias de princípios morais e de honra,

mas é lugar triste, onde vagam almas e fantasmas,
assombrando uns aos outros,
onde não se concebem lágrimas ou gargalhadas,
para fender o solo seco do teu coração,
suportado pelo subsolo de água parada que se recusa a subir,
e que lentamente apodrece a tua vida.

se fosses apenas alguém superficial,
os cuidados obsequiosos com o corpo disfarçariam o cheiro!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mosca dormindo, águia acordada

Voava como uma águia, e a todo momento se pegava arremetendo com fúria sobre as presas-alimento, a ponto de esquecer que era somente uma mosca ousada e pretensiosa.

Mas tinha sonhos maiores para si e sabia em seu íntimo que era uma águia. Talvez, imaginava, pela trama do destino, tivesse vindo parar em família errada, como certa vez ocorreu a um patinho feio que na verdade era um cisne.

toda vez que encontrava uma guloseima especial e se esbaldava de comer a ponto de adormecer perigosamente sobre o doce, tinha pesadelos de que não era uma águia, mas uma horrenda, nojenta e frágil mosca, isso fritava-lhe os nervos e acordava numa revoada. prometia-se então: "nunca mais vou comer nesse tanto, isso não me faz bem"; mas as tentações eram maiores e não conseguia, tudo acabava se repetindo sempre.

um dia, no meio do pesadelo de mosca, veio-lhe atrás o cozinheiro com o mata-moscas, ela, a águia que dormia, esquivou-se tenazmente, mas atingida, caiu ao chão e começou a agonizar. acordou assim de seu pesadelo de mosca e se propôs pela última vez que, se escapasse desta vez, "nunca mais iria comer muito, dormir mal e sonhar ser mosca"...

A última religião

O materialista é um fiel cultor do Deus-nada. A sua ausência é presença e a sua presença é ausência; em vez de ligar todas as coisas, Ele separa todas as coisas; em vez de mover a tudo, a tudo mantém imóvel.

O mito da atualidade é o Deus-nada, Ele não se importa, não requer, não avisa, não espera, não pode, não ordena e não cria. Ele é o Deus-não.

Como todo Deus único, o Deus-não não aceita a existência de outras forças que determinem o mundo diferente de sua não-vontade.

Na religião do Deus-não, eu como fiel sou cético; eu não creio, não sinto, não dependo, não quero e não preciso.

des-amén e vamos nos consumir!

Condenações no STF: Falta de provas ou de julgamentos?

Em recente manifestação na imprensa, o ministro Marco Aurélio de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), atribuiu ao Ministério Público Federal a responsabilidade pela falta de condenações de políticos nos julgamentos daquela Corte. A alegação era de que as investigações e as provas produzidas não eram suficientes. Possivelmente, ele estaria respondendo à pergunta de algum jornalista à pergunta: “Por que não há condenações de políticos no STF?”

Sabe-se que, até hoje, o STF jamais condenou qualquer parlamentar.

Mas, tirando os casos que ganham destaque nas manchetes, de quantas ações estamos falando? O deputado federal Régis de Oliveira, relator da PEC 130/07, apresentou parecer no qual levantou a existência de 53 inquéritos contra senadores e 446 processos ou inquéritos contra 147 deputados (alguns são réus em vários processos), totalizando cerca de 500 processos em trâmite no STF. Certamente, é em relação a esses 500 processos aguardando julgamento que se diz que as provas produzidas pelo Ministério Público e pela polícia são insuficientes.

Pois, para saber se as provas são insuficientes, é preciso analisá-las e isso só se dá durante o julgamento —o que não tem ocorrido no STF.

Para saber, realmente, se existem provas suficientes para uma condenação, ou se as provas são insuficientes, devem ocorrer duas situações. Na primeira, é permitido que elas sejam produzidas —contra parlamentares, é o STF deve autorizar as provas— e, na segunda possibilidade, as provas devem ser examinadas e o processo julgado. E o que tem ocorrido na mais alta Corte do nosso País é que os processos não têm sido julgados.

Parece precipitado atribuir toda a culpa logo ao órgão acusador que, no caso em concreto, tanto depende do Tribunal para investigar.

Restrições judiciais à obtenção de dados fiscais, bancários e telefônicos, muito comuns nesse tipo de processos, também podem impedir a produção de uma prova aprofundada e feita no tempo oportuno. A busca de um bode expiatório, seja ele o Ministério Público Federal, em seu representante máximo, o procurador-geral da República, seja o próprio Supremo Tribunal Federal, não soluciona essa complexa e dolorosa lacuna em nossa democracia, que clama por igualdade. O caminho é o diálogo construtivo entre as instituições.

OS NOHAMUS HABITARAM O PLANETA TERRA ANTES DOS SERES HUMANOS?

OS NOHAMUS HABITARAM O PLANETA TERRA ANTES DOS SERES HUMANOS?
Um estudo do encontro da Ciência com a Ética.

Da redação.

Durante nossa formação escolar e nas reportagens que eventualmente chegam a nossas mãos tratando sobre a origem do Universo e do Homem, não havia se cogitado da possibilidade da existência de outra raça inteligente e avançada que houvesse habitado a Terra.
Tal certeza, destruída pela mais nova e surpreendente descoberta científica dos últimos tempos, baseou-se no fato de que não havia qualquer evidência, rastro ou outro elemento que provasse a existência de uma raça superior mais antiga que o homem.
Aliás, o fato de ser tão antiga é justamente o motivo pelo qual não aparecia qualquer referência sua em nossa recente história de mundo pois, sempre começávamos a narrativa a partir das bactérias e dos seres unicelulares mais primitivos que habitaram a Terra, no que pensamos serem os seus primórdios.
O Prof. Dr. Max Wölfflin, do GIS-D (German Institute of Science), autor da teoria que permitiu a reconstituição virtual da fantástica e trágica trajetória evolutiva desse povo, explica porque demoramos tanto tempo para tomar conhecimento de sua existência: “é que, exatamente onde começávamos a contar nossa história, a partir do primeiro ser unicelular primário que deu origem às espécies de hoje, e antes do qual não havia nada, descobriu-se que este nada teve um tempo certo – aproximadamente 700 milhões de anos – antes do qual, uma civilização habitou e dominou sobre todo o planeta”.
Wölfflin explica o processo de reconstituição virtual como o mais moderno método de investigação científica do passado: “Como não restaram quaisquer evidências que permitissem a identificação correta dessa raça, nossa equipe foi obrigada a representá-la em referência co-respectiva com os inimagináveis progressos que tal civilização alcançou. Tão magníficos e perfeitos como o desaparecimento completo de sua história”.
O trabalho de pesquisa, desde o começo, mostrou-se de indiscutível complexidade, além disso, os governos que financiaram a pesquisa colocaram seu absoluto sigilo como condição máxima do projeto.
Obviamente os 1.500 volumes produzidos são um material inacessível a qualquer pessoa, por isso Wölfflin tem feito a divulgação da parte que mais nos interessa, desde a época em que os Nohamus se encontravam em um grau evolutivo equivalente ao nosso até sua total destruição com a chamada Renúncia ao Tempo, onde não apenas se apagou a história dos indivíduos e das sodufe (o que chamamos de família), o que é bastante comum, mas também tudo o que foi produzido manualmente ou intelectualmente, todos os fatos, todos os rastros que poderiam ser objeto daquela história, apagou-se inclusive a História.
O processo que levou os Nohamus à Renúncia não está ainda completamente explicado mas é atribuído basicamente a quatro causas principais: A desintegração do UM-Ciacine; o esgotamento do cossurer-siarutan (conjunto de energias e substratos que eles utilizavam para alimentar todos seus sistemas); a guerra biocomercial e a guerra núcleo-fundamental.
O UM foi a mais indescritível conquista da sabedoria Nohamussiana; consistia numa organização social paradimensonal, que possibilitava a todos fazerem exatamente o que queriam, foi sem dúvida a comunidade mais livre de todos os tempos.
É verdade que não foi um processo “limpo”, pois bilhões de Nohamus não foram integrados ao sistema, não tinham narga suficiente (conceito abstrato/concreto criado para permitir trocar qualquer coisa que se tinha por um pouco menos da coisa que se queria) e não resistiram às intempéries tecnológicas que foram geradas com a criação do UM.
O UM foi o resultado de milhões de anos de refinamento tecnológico e científico, foi também uma escolha dos Nohamuss que optaram por concentrar o fornecimento de todas as suas necessidades fisio-tecnológicas num único substrato, o cossurer-siarutan, que permitiu a vida daquela espécie fosse absolutamente maravilhosa, única.
Os estudos daquela comunidade levaram à conclusão de que todos os conflitos que existiam eram fruto do “espaço público”, do comum, de tudo que transcendia o indivíduo, assim, desenvolveram uma tecnologia capaz de reproduzir aquele espaço sem os seus problemas, sem o choque do que pensava cada Nohamu sobre os outros Nohamus.
Assim era a vida, cada um dos Nohamus cuidava de sua unidade e o UM-Ciacine realizava tudo; por administrar toda essa diversidade sem que qualquer problema gerado deixasse de ser incorporado ao sistema como mais um circuito de apoio, era também conhecido como Ciacine, a Neutra (para os Nohamus a questão de gênero também existia fisiologicamente, mas eles não a consideravam); diziam os tera-compêndios científicos da época que ele não se submetia à lei natural da adaptação da parte ao todo, era o todo que se adaptava ao UM.
Contudo, o maior mistério de todos é saber qual foi o erro cometido pelo UM que não pode ser assimilado e que gerou sua desintegração. Pela sucessão de fatos que ocorreu a partir daí, é provável que os Nohamus não o tenham descoberto antes do advento da Renúncia ao Tempo, cataclismo que os baniu da História para sempre.
As poucas centenas de anos passados sob o benefício do UM foram suficientes para desativar quase todas habilidades que lhes permitiam se comunicar com seus semelhantes. Os conflitos cresceram em quantidade e gravidade exponenciais quando eles foram obrigados a se relacionar entre si.
A disputa por narga (instrumento de troca) explodiu e os Nohamus conheceram, pela primeira vez, o que para nossa civilização pode parecer comum mas para eles era, até então, inconcebível, o nohamicídio.
As sodufe (famílias), acostumadas ao amortecimento que o UM fazia do individualismo dos Nohamus e tendo adotado a narga em suas práticas internas, não resistiram à desintegração daquele, assim, desintegraram-se também as sodufe.
Caída a última barreira do coletivo, a regulação do cossurer-siarutan, que inicialmente era feita pelo UM (mas que não era percebida) perdeu-se, e em poucas centenas de anos, este estava esgotado.
Foi por volta dessa época que os Nohamus conheceram a violência, a fome e a doença; poucos agora tinham narga e esta era usada em duas finalidades: produção de remédios (aquela comunidade que sempre havia prevenido, precisou remediar, mesmo sabendo do alto custo dessa política) e armas, estas, extremamente sofisticadas pois construídas com os restos da outrora tão gloriosa tecnologia.
A guerra biocomercial havia começado, bilhões de Nohaums foram assimilados por outros tantos milhões de Nohamus. Seus corpos e mentes eram convertidos em cossurer-siarutan, tomados à força (da necessidade) através da prática de Siam-ailav ou então obtidos através de um intrincado sistema conhecido por Somimus-Noc, que empregava narga por base.
A comunidade dos Nohamus estava de joelhos, dividida em dois grupos: os que tinham narga e cossurer-siarutan para manter uma vida muito semelhante àquela que tinham no UM-Ciacine e ainda acreditavam no significado deste; e outros tantos que, esqueceram-se por completo do UM e de seu significado, não tinham mais cossurer-siarutan, e se dividiam em dois grupos, os Sievaresim e os Menlistas-Fundata.
Os Sievaresim tinham um cotidiano mórbido, sem perspectivas, sem identidade, suas vidas não valiam nada, ou pelo menos, valiam tanto quanto as vidas que foram gastas para a construção do UM.
Já os Menlistas-Fundata eram caracterizados pela sua profunda aversão e ódio ao UM, a seu significado e a todos os Nohamus que se beneficiavam dos restos daquele, acreditavam que agora que aquele não existia mais, A Verdade que a comunidade de Nohamus deveria seguir (custasse o que for) seria revelada, unicamente, através dos Menlistas-Fundata.
Por tanto tempo esses grupos viveram em condições tão diversas dos Nohamus que, na verdade, não eram mais Nohamus, ou pelo menos não eram vistos como Nohamus pelo primeiro grupo (Nohamus privilegiados) e nem viam a si mesmos como Nohamus. Os Sievaresim se achavam inferiores aos Nohamus e os Menlistas-Fundata , superiores.
Voltando um pouco atrás, lembremo-nos que toda narga da comunidade Nohamus foi utilizada no desenvolvimento de remédios e armas, estes por sua vez, baseados no princípio do UM-Ciacine de que “o que abunda não prejudica”, foram combinados e recombinados, milhões de vezes pelos Nohamus, até que se produziu...
... o TERROR, aquilo que faria os Nohamus sumirem para sempre da memória deste planeta, uma substância capaz de vaporizar toda e qualquer forma de vida, ou, mesmo que sem vida, desde que tivesse sido tocada pela vida de alguma forma, baseada na antiga tecnologia Raelcun, acrescida de várias inovações, ficou conhecida como Rama-Acigoloib.
Infelizmente não se descobriu o motivo pelo qual se produziram quantidades tão fabulosas dessa substância, considerando que bastava o uso de uma pequena porção para destruir a todos.
Sem cossurer-siarutan os Sievaresim e os Menlistas-Fundata se encaminhavam rapidamente para o Fim e, mesmo assim, esse ainda pode ser adiantado (este é considerado o maior feito do período de derrocada da civilização Nohamus); como a quantidade de cossurer-siarutan já era mesmo insuficiente, eles trocaram, com os Nohamus, o que restara daquilo e da narga por uma pequena quantidade de Rama-Acigoloib.
Também não se sabe até hoje porque os Nohamus fizeram a troca, alguns dizem que era o velho apego à narga, outros que foi a necessidade de cossurer-siarutan.
Acionada, a Rama-Acigoloib levou um segundo para apagar milhões de anos da civilização Nohaums e outros 700 milhões de anos para permitir que algum tipo de vida voltasse a ocupar esse planeta.
O UM-Ciacine, os Nohamus e tudo o que eles haviam construído e o que mais prezavam foi destruído. Suas regras, de que o planeta deveria se adaptar ao Um-Ciacine, e de que esse sistema era confiável e suficiente para transcender a distância entre o “eu” e o “outro”, livrando cada Nohamu dessa responsabilidade, desapareceram para sempre...


Aureo Marcus Makiyama Lopes


Epílogo: As palavras incompreensíveis são anagramas, embaralhamento de letras, exemplo: Nohamus = Humanos; narga = grana; UM-Ciacine = Ciência, e outros sentidos conforme a frase; sodufe = feudos; Somimus-Noc = consumismo; Rama-Acigoloib = Arma Biológica.

A mulher, o Mal e a Civilização.

Na mulher sempre se encarnam os mistérios perturbadores da natureza; os mistérios que evocavam O Desconhecido. O desconhecido não nos permite controla-lo, nos supreende, nos submete, e para nós, simples mortais, o desconhecido é o mal.

A natureza é o caos imprevisível se não acreditamos numa ordem divina e bondosa que a ordena. A natureza da vida na Terra é o mal. A mulher é a encarnação da natureza e a encarnação do mal. Lógicas como essa fazem par com a obra 'O martelo das feiticeiras'.

E a humanidade consegue se libertar desse domínio quando se liberta da natureza, quando dá forma e ordem ao caos, quando separa espírito de matéria e mente de corpo. Essa foi a época de ouro da humanidade, a época da Razão. Afundada depois na lama, por duas guerras mundiais e muito mais.

As mulheres que resistiram à essa nova ordem, à separação e à negação da natureza, foram chamadas de bruxas.

As que adotaram, ou aparentavam adotar, as leis morais, foram chamadas de nobres, belas.

E as que renegaram completamente sua natureza, o mal-dito mal, e se dedicaram ao invisível e ao espiritual e ao não material, inclusive com a caridade, foram chamadas de santas.

Hoje, cada vez mais, simplesmente mulheres. melhor assim

A deusa e a marionete.

Uma Deusa da Vida governava um reino celestial, como tantas outras deusas fazem em tantos reinos destes que existem por aí – a olhos não vistos – em cada esquina do universo.

Um golpe de Estado, pelos malvados de plantão, colocou seu coração a prêmio e sabe-se bem que o coração é a cabeça de toda deusa da vida; ela para se proteger fugiu escondida dentro de uma semente, pois tomar formas variadas é coisa dos deuses.

Veio parar mais distante do que imaginava, no planeta Terra e, não podendo revelar-se em sua incendiária beleza e natureza às pessoas, resolveu adormecer, ainda como semente, em um corpo de uma menina.

Ao longo da vida de menina que se transformava em mulher, esta tornou-se um terreno irregularmente fértil, algumas áreas pedregosas, outras arenosas e outras espinhosas, mas na terra fértil, ahh, como crescia o amor.

A deusa, respeitando a natureza da hospedeira, floresceu também irregularmente luminosa: quando a mulher falava, andava, gesticulava, pensava e amava, alternava ou misturava a mais pura luz com águas turvas.

A mulher-moça que portava esse incêndio todo de vida, já escorria amor e vazava luz pelas frestras que se abriam em seu delicioso corpinho (e a todos encantava com isso), mas a deusa sentiu que dar mais àquela mulher seria matá-la. Por outro lado, simplesmente sair dela não seria crueldade menor.

Como fazer para que a vida ficasse nela e saísse dela ao mesmo tempo, para preservar-lhe a vida do excesso e da ausência de luz? A deusa, a pedido de Maria, deu-se lhe então, em seu ventre, mais de seu sêmen, e neste, a promessa de uma companhia para dividir com ela o fardo e a aventura de portar a vida e o amor.

A democracia é má.

Não fosse a troca constante de governos, cada um prometendo – e depois descumprindo – sistematicamente a mesma coisa; e se não fosse nossa memória curta, perceberíamos que as mesmas pessoas, ou grupo de pessoas se alternando entre seus pares, vêm fazendo a mesma coisa – errada, ignóbil e indesculpável – há muito tempo.
Não fosse a democracia, troca constante de governo, e esta falsa impressão de renovação, todos já estariam bastante indignados com a repetição dos mesmos e das mesmas coisas.
Sem a impressão de que as coisas são diferentes, ou pelo menos de que poderiam ser diferentes, o sistema representativo já teria ruído, mas a anarquia decorrente de tal ruptura seria pior do que o regime que temos hoje.

Super-heróis discutem a aplicação do direito

Batman: A lei ajuda os bandidos, nada tem a ver com a justiça, então não me interessa.

He-man: não é assim amigo, a lei é muito importante para a sociedade, uma sociedade que não tem leis perfeitas deve aprimorá-las para que as possa ter um dia. É a lei que dirige o punho e a espada da justiça para a aplicação correta.

Jaspion: como não temos leis universais, tenho lacunas legais constantes em meu trabalho quando enfrento monstros vindos do espaço sideral, aí, sem repositório oficial para considerar, acabamos resolvendo as pendengas com soluções caso a caso.

He-man: isso não é lei, é casuísmo, ainda que vc use o mesmo golpe para matar os monstros, voce deveria dar o exemplo humano superior de pautar-se por regras pré-auto-dispostas, ainda que seus inimigos não as seguissem, como pretendem os brasileiros, ignoram os americanos e fazem os príncipes de contos de fadas.

Batman: nas ruas, não existe isso que voce está falando, só existe a força, uma força maior que derrota uma força menor e que lhe impõe a morte ou outra punição definitiva. Não há tempo de aplicar a lei durante um tiroteio, durante uma perseguição e numa negociata para salvar a vida de alguém. Os advogados são chamados depois para justificar o que teve de ser feito, dando depois, e não na hora necessária, uma chance ao mais fraco.

A escravidão, a miséria e a maldição.

O que ama é um escravo, o que não ama é um miserável e aquele que oscila entre um papel e outro é um maldito.

A busca do escravo é ser livre, a do miserável, a abundância e o maldito busca a segurança de quem permanece onde está.

Mas ser livre é deixar de amar, e se tornar maldito ou miserável. Abundar é amar e ser escravo ou oscilar. Mas permanecer pode se fazer escravo, como miserável ou como maldito.

A culpa disso não é dos jogadores, por princípio, mas da natureza, que é má, embora nela, como seres naturais, também sejamos maus.

E se dela saímos por nossa cultura, força ou conhecimento, é para nos colocarmos como um mal ainda maior, como a ... evolução do mal. Para ferir e sermos feridos, ignorar e sermos ignorados, e destruir e sermos destruídos, a cada minuto, pelo tempo.

Em tempos determinados da vida, por outros malditos, escravos e miseráveis, como nós e, ao longo e por toda ela, por nós mesmos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

poesia trágica

O fantasma insuspeito que carregas em teu peito me contou,
teu estranho segredo de adolescência,
que de morte atroz teve o teu amor veloz,
que, mal nascido, já desabou dos parapeitos suspensos da babilônia.

a vida da caixinha acaba no caixão

Uma folhagem tipo savóia nasceu dentro de uma caixa cigana vertida de tecido avermelhado. as outras caixas ao redor encheram-se de inveja: ora, quem ela pensa que é para nos humilhar dizendo que não somos uma boa caixa só porque não nos nascem verdinhas plantas? só porque nosso vazio não transborda?

- pois terás um triste fim, amaldiçoou-a a caixa anciã.

- E nesse momento não terás mais tua plantinha vaidosa e intrometida para te enfeitar. nisso ouviu-se uma estonteante música de um violoncelo.

A folhagem dançou para o seu amor, mas as caixas e as caixinhas mantiveram-se senhoras de seu destino. cada uma delas balbuciava baixo que sua alegria de vida não lhes demorava a chegar: encontrariam todas e cada uma por si, um caixão que lhe abrigasse, e por todos os tempos vindouros, ali com-nele sossegar, aninhada e protegida, da maldade do mundo.

torneira

Ele, um nórdico, se inclina invasivamente para a frente, com seu corpo de aço, enquanto permanece ladeado de seus úteis e atarracados comparsas. há contudo uma cortina húmida de gotículas que os separam de nós. ainda assim, aparte, pretende nos inspirar, mais eis que um dedo mágico risca o seu corpo, ou seria a vidraça envaporada? superfície ou substancia? e o dedo nos deua a visão. a visão que já tínhamos, porque esse toque de agora sempre esteve lá. nasceram juntos o risco e o riscado e em criogenia fotográfica existirão eternamente, sem que saibamos jamais se um existiria sem o outro.

Os problemas agem em bando

Fernando acidentou-se na rua da lanchonete em que faz seu lanche à tarde. O que sucedeu-se é que foi atropelado por um problema que dirigia uma caminhonete em alta velocidade (ocorreu que seu irmão foi abandonado pela mulher e queria morar um tempo em sua casa). O motorista desceu e ficou ali a seu lado. Logo juntou-se um pedestre curioso (seu chefe lhe deu um projeto urgente para finalizar no fim-de-semana). A partir daí foram se ajuntando a Fernando vários problemas, alguns novos, outros antigos e seus conhecidos de longa data. E ficavam a volta do acidentado, e este não conseguia fazer nada para impedir aquele aglomerado que cada vez mais o oprimia. Desde o acidente, Fernando ouvia vozes. No início soavam fortes, conselhos de amigos e familiares, uma “caída de ficha” ao ouvir “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, uma benção do padre e incontáveis apelos da mulher. Mas mais e mais problemas chegavam em volta do acidentado para ver o que havia acontecido, porque ali havia muita gente, deveria haver algo interessante (ah, os problemas, esses desocupados...) e quanto mais chegavam, mais sufocavam a Fernando e menos, e cada vez mais distante, ele conseguia ouvir as vozes que lhe diziam para sair dali. Passados seis meses (porque os problemas, ao contrário das pessoas, não precisam ir embora trabalhar, aquilo é o trabalho deles...), ele se levantou e foi se embrenhando na multidão que o cercava. Era uma selva intransponível, pensou, mas continuou caminhando. Por muito tempo caminhou e estava a desanimar, de tantas voltas que havia dado, até que, de repente, ao desvencilhar-se de um problema aterrador, viu-se saído da selva e debaixo de um céu ensolarado e brilhante. Parado ali, exausto, respirava profundamente e o admirava. Um velho que tudo havia visto, lhe disse: - foi por pouco rapaz, já vi bons homens e mulheres que, passado o tempo que para ti passou, não mais se levantaram do local do primeiro acidente e lá ficaram até que morreram sufocados; outros ainda, adentraram na selva, mas perderam-se e, ao minguar da 7ª lua, desistiram de procurar a saída e sentaram-se ao chão e deixaram-se devorar pela terra. Rapaz, deixe eu lhe dar um conselho de velho, das próximas vezes, sim haverão, vê se olha por onde anda...