terça-feira, 23 de abril de 2013

Textículos no túnel do tempo.

Primeira interjeição da história da humanidade?

- Ih, lascou-se (da época da pedra lascada).

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Desvendado o mistérios dos adivinhos que usavam bolas de cristal:

Eram pessoas vindas do futuro que usavam um tablet redondo e consultavam o google...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O ciclo.

Pauline é jovem.
Em seus ouvidos, promessas.
Em sua mente, poder.
Em seus olhos, sonhos.
Seu corpo é belo e forte.
E seus pensamentos são ágeis.

Mas Pauline também é Pedro. É Pauline-Pedro.
Eles moram e dançam juntos todo dia.

Há todavia um conflito.

Pedro quer viver acima. Ele é firme, claro em seus propósitos, usa a razão e almeja a transcendência.

Pauline quer viver abaixo. Ela emociona-se, flui, é obscura e lhe apetecem as necessidades. Acredita que daqui a 20 anos estará só, fazendo seus próprios movimentos. A sua outra metade terá sumido.

- Dancemos por amor e misturemos tudo, Pedro. Amor e dor, beleza, sofrimento e solidão.
- Dancemos até que o amor acabe. Acho que vou contar até 5.

5
4
3
2
1

Pedro-Pauline imergem.
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Era uma vez, num reino muito, muito distante...

Quando Pedro ainda não era Pedro-Pauline e não era nem mesmo Pedro, apenas fluía no mar.

Veio então esta forma que chamamos de corpo e o diferenciou.

E passou a existir Pedro, que corria como o cão e usava uma coleira que era só sua. Não se perguntava por que a usava, nem se podia parti-la. Cria que seu destino o esperava, mas rodeava resoluto sem ir aos confins onde ficava aquilo sei lá o que que desejava.

O tempo passou e o discurso do  "nunca irei lá" passou a ser intercalado com o ato mais belo de ficar amarrado a beira de uma corda, com o corpo alongado como uma espada que todavia não desfere no mundo o golpe fatal de que é capaz. Ocupava um ângulo ruim de visão e não via quem havia partido e agora passeava lá fora com flores. Até a noite em que teve um sonho.

Tentavam enterrar viva sua irmã, mas ela continuava a dançar e não parava nem quando lhe entrava terra pela boca. Ela dançava por amor, e deixava um rastro, fazia um eco, pintava um retrato único e o assinava E dizia: Dance voce também!

No dia seguinte, Pauline aconteceu a Pedro.

Mas muito antes disso, num outro reino distante, Pauline não era ainda Pauline...

Havia recebido um belo corpo e com ele flutuava em águas profundas e turvas, e para amar, tentava fazer curvas. Todo dia ela fazia tudo igual, e variava entre a inconsciência e um tédio mortal. Não havia beleza, e para piorar, ela tinha finalmente cansado dos mimos  - jóias, roupas, viagens - que caíam a seus pés.

À noite, quando fechava os olhos, sonhava o doce canto de Sua confortável vida e renegava essa amante espúria, gasta e inconstante que é a Vida.

Numa segunda-feira, passeando por um sinuoso e pouco frequentado caminho do parque, Pauline tropeçou em Pedro. E não levantou mais.

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Emerge Pedro.
Emerge Pauline.

Projetam-se no ar.
Artérias límpidas de uma natureza forte.
O ar pouco lhes resiste.
Assim, pois, avançam.

Mas logo à frente uma rocha fria e insuperável os espera.
Que importa, se agora todos são, cantam, dançam e estão livres?
Será uma linda explosão.
E Pauline espalhará seus corpúsculos aquáticos por sobre todos a quem tocou.

Pedro também fará do mesmo modo.
E muito outros, milhares e milhões.
Milhares de almas se esfacelando em seu gozo final, a cada expiração.
Guiadas pelas mesmas forças que as criaram.
Fazem radiante e sublime espetáculo.

Inspira, e a água aglutina-se, escorre e retorna à fonte.
Expira, e a água desintegra-se, borrifa e retorna da Fonte.