domingo, 20 de janeiro de 2013

Deflorando mentes.

Eu sei quem você é.
Nós mal nos conhecemos.
Eu sou boa em adivinhação, intuição e em juntar peças desconexas quaisquer sobre a vida dos homens em geral. Mais alguns minutos de conversa e perguntas e eu poderei traçar um perfil completo de você.
Interessante... mas eu prefiro deflorar-te!
O que você está falando, seu canalha vulgar? Eu vou embora!
Fique aqui (ele a segura pelo braço), eu só posso e só vou deflorar a tua mente.
(silêncio e suspense angustiantes)
Eu não suporto o silêncio.
Ele é necessário. E agora que se acaba, vejo que em teu caso ele será quebrado de modo particularmente doloroso.
Estou ouvindo... (olhar desafiador)
Deflorar é tirar a flor. As pessoas comuns acham que trata-se de tirar a virgindade, romper o hímen. Mas como sabes, esta flor não te posso tirar novamente. Eu falo em deflorar a parte mais bela e intocada de tua mente: como julgas o mundo, e por reflexo, o que pensas de ti mesma.
(tristeza)
Aqui na rua? As pessoas estão olhando. Não faça isso, por favor.
É uma violência necessária a tua vida, pois estás a desperdiçando vergonhosamente, não preciso de tua autorização. Além disso, não te preocupes, eu já tive a minha vez, e por isso posso fazer isso por ti.
Levanta a saia dos teus preconceitos.
(ela, relutante, levanta)
Desabotoa a blusa de teus auto-enganos.
(seus dedos tocam os botões e hesitam; ele a ajuda)
Tira o sutiã de tuas ideologias.
Não (,) pára, eu não suporto mais isso. Tem que ser assim?
Tem que ser assim.
Baixa a calcinha de teus moralismos.
Eu não quero mais ouvir isso!
(se debate)
Estou quase acabando...
(Ela chora, enquanto as suas decisões anteriores, tão parecidas umas com as outras, alinham-se para uma última fotografia de despedida que faz sua mente latejar)
O que você fez comigo?
Perceba.
(ela primeiro desvia o olhar, mas quando olha,  mal se reconhece.)
Que é essa doce e intensa presença?
Acabamos. Veja como você está linda. Melhor, veja como VOCÊ É LINDA, PERFEITA!
(ela respira profunda)
Como te sentes sem a castidade mental com a qual impedias a ti própria o gozo dos teus infinitos, especiais e únicos potenciais?
Estranha, como se estivesse nua, mas não é ruim como eu imaginava. Estou bem...
Estás livre. Segue agora para uma vida intensa, porque os teus anos têm andado apressados. Já sabes o principal, que a beleza de tua mente não está em sua virgindade.
Posso ir contigo?
Dessa vez não.
Obrigada assim mesmo.



Esse texto foi desenvolvido a partir do texto original 'Deflorando mentes' de 2008 do mesmo autor.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A criança envenena o velho.

Anatole queria ser engenheiro,
Rebeca queria ser médica,
Domenico queria ser empresário,
Jadirson queria ser arqueólogo,

Eu queria ser.
Mas eu não era?
Desisti de ser,
Decidi que eu queria ter.

Anatole queria ter uma mulher-princesa,
Rebeca queria ter uma casa na praia,
Domenico queria ter um carro conversível,
Jadirson queria ter uma biblioteca.

Eu queria ter.
Mas eu tinha.
Desisti de ter.
Decidi que eu queria entender.

Anatole agora queria entender porque sua mulher não o entendia,
Rebeca queria entender porque sua casa não era um lar,
Domenico queria entender porque seu conversível não o levava aonde ele mais precisa ir,
Jadirson queria entender porque que o conhecimento dos livros serve e não serve ao mesmo tempo.

Eu queria entender.
Mas não entendia.
Desisti de entender.
Decidi que queria esquecer.

Anatole queria esquecer que os corações sangram bem mais sangue do que há no corpo,
Rebeca queria esquecer quem a esqueceu,
Domenico queria esquecer que os seus bens eram agora os seus senhores,
Jadirson queria esquecer que o passado esquecido é destino.

Eu queria esquecer...
Consciência.
Ecoam fantasmas dos quentes sonhos sonoros,
Da criança que envenena o velho,
Que não é, 
Que não tem, 
Que não entendeu,
Que não esqueceu.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Requiém para um sonho.

Montagem no youtube com cenas do filme Requiém para um sonho.

Sensações e sentimentos fortes e incômodos, taquicardia etc. não assista!



Amante dos animais...

A música, as atrizes, os gestos, o clima, o desfecho, que cena!




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Coração de princesa, boca de plebéia.

Seguindo o conselho de meus amigos, segue texto apartado e emancipado de sua fonte inspiradora.

Quem gosta de saber onde está pisando, pode tentar adivinhar qual é o filme de referência do texto...

-----

Um mundo dorme, o outro acorda.

Acordei eu, da minha vida enfadonha, para um silencioso pesadelo.
Adeus doce desconforto.

Aqui de fora, olho para nossa casa e vejo você dançando com seus amigos.
Aos 30 anos, me sinto muito só.

Cansei de ser eu.
Dizem que não posso mudar o que sou.
Dizem que as derrotas habituais são mais suportáveis.
Ameaçam: Se você for embora, será para sempre.
Murmuram: Não nos traia, não faça como aquele-você-sabe-quem.

Descubro que com uma chave-mestra posso ter qualquer coisa.
Custe o que custar, eu quero uma dessas.

- Para ganhá-la, tens que trincar o coração de cristal de uma princesa.

EU PRECISO de uma chave-mestra, não me importo com o resto.

- Vivo no submundo mas sou uma princesa de estirpe. Tenho o coração de uma princesa, sirvo?

- Para mim tu és apenas uma pirralha, fofa e imunda.

(Olhos marejados)
(Choro)...
E a chave-mestra finalmente em minhas mãos!  Minha jornada terminou?

Não, está apenas começando.
Despeja o escravo sorridente da sala e nela acolhe o bruto desajeitado que se esconde no porão.
Vai, diga mais à tal princesa, diga-lhe 'a verdade'!

Aqui, não gostamos de plebéias metidas a princesa, volte para a favela, feiosa.
Se resolver sair de lá, você deve ficar na cidade.
Desta cidade você não pode sair jamais.
A glória dos livres não é pra você.

Os gostos são muito variados, alguns são especialmente únicos e especiais.
Tu, és capaz de gostares de mim assim desse jeito.

Já o sabes? Como podem os doces amargar tão rápido?
Não quero mais o que queria antes.
Me perdoa?

Nem o doce nem o amargo permanecem.
Nossos passados já podem ser destruídos para que um novo destino nasça.
Toma meu coração, sabes o movimento, faze-o como quem puxa um plug da tomada.

E a partir de hoje nos faremos:

À força,
com coragem,
sorvendo a beleza,
dando amor...
e zoando de nossas finitude e pretensões.

Menina travessa e terrível guerreira!? Quantas camadas...


Uma, fina e impenetrável, para labutar ao sol em teu trabalho nojento,
Outra, de pura branca flor, para usar à noite com teu homem.